Eurípides (485-406 a.C.) | ||
Dionísio em Tebas
Mênades | ||
Dionísio conclamando as bacantes | ||
As bacantes
As bacantes empunhando o tirso | ||
Um sátiro
a testemunha apavorada
Vindo acalorado das cercanias de Tebas, chegou ao Palácio do jovem rei Penteu um mensageiro para narrar o que ele mesmo presenciara nas suas andanças pelo monte Citéron, a elevação maior próxima a Tebas. Penteu, de fato, era primo-irmão de Dionísio e alinhava-se com os partidários que negavam a ele qualquer vestígio de divindade, acusando-o de nada mais ser do que um bastardo condenado pela deusa Hera, a esposa de Zeus, a vagar sem destino pelo mundo, arrumando encrenca por onde passava. Pois agora o mensageiro vinha contar ao rei que até sua mãe, a rainha Agave com suas duas tias, estava acampada lá no alto com as bacantes. Algumas delas, as mais jovens, depois de despertarem, disse ele, simplesmente amamentavam animais, além de corças, até uns lobinhos sugavam o seio opulento de uma ou outra bacante. Batendo com os cajados no chão, elas faziam saltar fontes de água pura e, querendo leite fresco, bastava esfregarem os dedos sobre o solo para que ele brotasse dali em abundância. Segundo o mensageiro alarmado, uns pastores que subiram na montanha as viram e, acoitando-se por detrás de umas sebes e arbustos, tentaram, liderados por um mais afoito e corajoso, resgatar a rainha-mãe de um dos coros organizados pelas mênades, pensando assim poder agradar ao rei. Foi um desastre. Tomadas por uma fúria divina, empunhando os tirsos, centenas delas saíram em disparada atrás deles. Não só seguiram os intrometidos sopé abaixo, como invadiram um par de aldeias, não sem antes estraçalhar bois e vacas que encontraram pelo caminho, lançando-se a esvicerar novilhas com as mãos. Um horror! Os ferros e lanças que os habitantes jogaram contra elas revelaram-se inúteis. Elas realizavam prodígios que as deixavam imunes aos assaltos humanos, enquanto uma simples sacudida do tirso por elas empunhado abriam chagas nos demais.
A prisão de Dionísio
Enquanto Dionísio conseguia a adesão do cego Tirésias e do próprio velho rei Cadmo, o avô de Penteu, então retirado do trono, este determinou que os guardas trouxessem de imediato o estrangeiro encadeado. O rei de Tebas alegou que não poderia permitir o seguimento da desordem açulada pela presença de Dionísio. O comportamento despudorado das bacantes, disse ele, envergonhava Tebas frente à Grécia inteira. O deus da vindima, levado preso diante dele, fez mofa do rei. Disse-lhe que, por ele ser filho de Zeus, nenhum cárcere poderia detê-lo. Deu-se, ali na sala do trono, o clássico enfrentamento entre o profeta e a autoridade, mantendo eles um diálogo tenso que lembra o que Jesus travou com Pilatos no adro. Mesmo assim, Penteu ordenou que o levassem amarrado para a cavalariça. Não demorou para que Dionísio invocasse as bacantes e as poderosas força ctônicas que ele dizia também comandar. Um pavoroso terremoto então sacudiu Tebas, pondo abaixo o Palácio de Penteu e libertando de imediato Dionísio das suas algemas. Penteu enfurece-se. Quer que os guardas façam uma expedição ao monte Citéron para reprimir as bacantes, responsáveis, segundo ele, pela calamidade que atingiu a pólis. Dionísio reaparecendo a sua frente, trata de dissuadi-lo. Que parasse de o ameaçar com armas, a ele e suas seguidoras, e que fosse ele mesmo verificar lá no monte que as liturgias bacantes nada tinham de mais.
A vingança de Dionísio
A desolação da casa de Cadmo
"Se houvésseis, vós, tebanos, sabido guardar
Em vossos corações a útil sapiência (mas não quisestes) Gozaríeis certamente a aliança e a felicidade báquica!"
Para contentar esse Deus estrangeiro - que, em meio à desgraça da família de Cadmo, trouxera para as festas gregas um tão saboroso licor como o vinho - é que os gregos resolveram homenageá-lo anualmente com as festas bacantes das quais, mais tarde, nasceria o teatro, sobre o qual ele reinou supremo.
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